Resenha: Uma janela no tempo - Lorena de Macedo

Querido diário, poderia começar eu ao reproduzir nesta singela resenha as minhas impressões sobre este livro fantástico intitulado "Uma janela no tempo". Quando vocês olham para o livro, primeiramente entram em contato com uma capa muito sugestiva, pensam... Olham de novo e o título parece prender-lhe até que já não pode mais relutar e sua única escolha é abri-lo... Quando fazes isto, ah! Depara-se com mais surpresas e não, não se pode parar... Você não tem escolha! Tem que lê-lo imediatamente, pois tamanha é a curiosidade despertada que simplesmente não consegue desgrudar-se dele!
A escritora Lorena de Macedo tem 30 anos, é mineira do Triângulo, Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia, o que lhe confere certa experiência com a escrita e em 2012 publicou seu primeiro romance pela Editora Literata/SP, uma trilogia denominada Essência e cujo volume I foi lançado na Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Saindo deste contexto de Essência, a autora nos presenteia com uma obra mais do que bem escrita intitulada Uma janela no tempo. Ótimo, ao pegar o livro aparenta ser apenas mais uma história como muitas outras envolvendo viagens no tempo, mas enganam-se meus caros leitores, enganam-se! Já nas primeiras páginas é possível perceber que a obra tem um grande potencial, pois Lorena não escreve a esmo, suas palavras são meticulosamente escolhidas entrelaçando o leitor em cada linha, em cada página e em cada capítulo. Não se pode parar de ler nem um instante, pois somos tragados para o interior do palacete da família Pope e envolvidos nos mistérios e segredos que estes carregam. Onusto de sentimento, mistério e engenhosidade, o livro nos proporciona, além de uma leitura agradável, uma lição de vida. Os personagens de Lorena são extremamente bem construídos, tanto que, duvidamos se eles realmente não existiram e tal proeza é mais do que relevante, pois, segundo Anatol Rosenfeld  Ã© "a personagem que com mais nitidez torna patente a ficção, e através dela a camada imaginária se adensa e se cristaliza." (p.14)
A pequena cidade de Esplendor é o palco de toda a trama, Erick Vander Pope após ter sido dado como morto resolve levantar da tumba e fazer uma visita ao seu sobrinho-neto, Alexander Vander Pope, e tal visita acarreta uma série de consequências que marca a vida da família para sempre. Lucinda e Daniel são filhos de Alexander e Carmélia, e como todos os irmãos, vivem se provocando. Depois de uma chuva intensa, Daniel sai para dar uma volta na floresta que circunda o palacete da família e sua irmãzinha foge das criadas para persegui-lo, acreditando veemente que o mesmo roubou-lhe a boneca de pano. Mais pela manhã, Daniel havia encontrado um bilhete que ele mesmo escreveu com uma anotação extra pedindo para que não saísse de casa, mas ao ignorá-lo, acabou atraindo a irmã para o perigo. Lucinda acaba desaparecendo, como se tivesse sido tragada pela terra e ninguém, jamais a encontra. Desesperada, Carmélia começa a definhar e morre, restando apenas Daniel, carregado de culpa e o pai, dizimado pelas desgraças familiares.
 Alexander começa a beber e Daniel não consegue deixar de se sentir culpado, ele passa mais tempo sozinho aos cuidados de Lacrimosa do que em companhia do pai e com o passar dos anos, cresce e torna-se um garoto muito problemático, o que o faz ir parar em um internato. Lá Daniel aprende a portar-se direito e envolve-se em inúmeras aventuras ao lado de seu melhor amigo Bento Solano. Porém, nem tudo dura para sempre e é chegada a hora de Daniel retornar para casa. O adolescente, a priori, se vê em um beco sem saída, pois não se dá bem com o pai e as lembranças que carrega no peito são muito fortes. Então, o destino oferece-lhe uma chance ao lado de Donaana e Albertino na floricultura Martinelli, pois, estranhamente, Daniel desenvolvera habilidades para a jardinagem no seu período de interno. A vida começa a prosperar novamente, e uma certa mocinha da cidade chamada Cecília Vieira começa a povoar os pensamentos conturbados do jovem Daniel. Mas, se os leitores pensam que a partir dai a história acaba se tornando um romanceio clássico, também enganam-se! Lorena nos surpreende com a chegada de um pintor na cidade que acaba gerando situações inusitadas que, são essenciais para o clímax da trama. Inclusive, Daniel descobre o verdadeiro significado da visita de seu antepassado Erick Vander Pope e toma conhecimento do relógio criado por Albert Einstein que, supostamente, poderia voltar no tempo. Em um ritmo alucinante, a autora nem nos dá tempo de respirar, vai desvendando os mistérios que a muito nos deixa perdigados tudo de uma só vez. E a questão que não cala é: se você pudesse voltar no tempo e fazer tudo de novo, o que mudaria?
Daniel se vê diante desta questão e a angústia sentida por ele é sentida também por nós que não sabemos mais o que é certo e o que é errado.
Destaco que adorei o enredo, a criatividade e a originalidade com que a autora nos apresenta fatos tão cotidianos, pois, a fantasia neste livro é um pano de fundo. O livro é palpável e conseguimos nos ver na obra, algo que considero relevantíssimo. Porém, devo também ressaltar que há algumas passagens que considero completamente desnecessárias, como a explicação das vidas de personagens como Lancelin Honório Callado e Carmina Cruz. Simplesmente parecem-me desconexas e fora do contexto. Também o fato de que o livro é narrado em pontos de vistas e quando você está extremamente envolvido com um acontecimento, Lorena nos interrompe de forma abrupta para jogar outro ponto de vista, tornando, em alguns momentos, a leitura um tanto confusa. Logo, a narração onisciente múltipla torna-se muito "múltipla" ao invés de ser um pouco mais "seletiva" e concentrar-se em um núcleo menor de personagens para dar mais fruição ou, nas palavras de Roland Barthes, juissance a obra.
Contudo, nem mesmo este fato nos faz desistir de levá-la até o final, pois é tão bem escrito que fatos como este poderiam passar despercebidos. Lorena nos envolve do começo ao fim sem perder a elegância e veracidade de sua história. Abusa de flashbacks e flash forward, mas sem perder o fio da meada, o que torna o tempo cronológico sutil ao psicológico. O espaço transita na obra, demonstrando claramente as marcas de um Brasil pós-guerras no embalo do som das jukeboxs e o motor das lambretas, onde o povo lutava por derrubar tabus e as mulheres começavam a ganhar espaço em uma sociedade machista.
Logo, eu recomendo este livro com toda certeza! E mais, afirmo que, sem sombra de dúvidas, é um dos melhores livros que li em minha vida. Sem mais! Deixo o convite em aberto aos leitores que, como eu, gostam de um livro interessante, atual e bem escrito.
Até a próxima!

3 comentários:

  1. Deu vontade de ler! Parabéns! Excelente resenha!

    ResponderExcluir
  2. Este livro é excelente. Comprei-o na Bienal ano passado e simplesmente adorei a premissa, o enredo e a escrita da autora.
    Confesso que alguns pontos negativos que destacou, eu tenho que concordar plenamente, mas no mais, é um excelente livro.

    ResponderExcluir

Olá! Seu comentário é muito importante para nós!