(...) “Rendas & Fendas” tece e destece palavras, desfia e se banha de sinestesia, feito o movimento dos pentes de um tear trabalhando matizes, nuances, polissemia e policromia, entretecidos fios imagéticos, cerzindo as fissuras entre a realidade e a fantasia.

E se espicham os cordões da memória para tramar esses enredos que nos enredam nas rendas e vão preenchendo os vazios das fendas, das feridas, das saudades, dos amores destecidos....)

Lança o fio condutor. Adentra o labirinto. Segue o fio de Ariadne. Há o sorver do néctar dos deuses, a ambrosia poetrix que nos encanta. A magia das palavras tecidas com a pura matéria de uma filosofia do viver. Que luta, desafia, desfia, tece e destece. Sempre em frente a lançadeira de versos. O tear, o fuso, a roca... Mulher rendeira ferida de espanto e poesia.

Quem sabe os caminhos do encontro e do desencontro? Bifurcam-se as veredas. Romance no ar. Tristezas, alegrias... Sempre, lado a lado, a caminhar. Que saudades distantes range a porta da poesia? Ecos, fios do volátil algodão da infância se misturando aos cabelos brancos dos avós. O poema se desvia das ruas e das esquinas para não se esbarrar na poeta. Junto com ela, descobrimo-nos também pérolas. Agarramo-nos ao cabelo das águas, à trança dos poemas, às carícias do vento a bailar. Somos fios de versos, algodão de palavras, macio veludo, tapete de estrelas, beleza sem par. Tercetos de linho e cetim, agulhas de ouro e prata a fiar.

Tudo isso e muito mais são “Rendas & Fendas”: um fio de luz incessante, ternura e tristeza e alumbramento em cachos de brisa a soprar. No dizer da poeta, são “alegrias que anoitecem”. Ou “entrelinhas de estrelas, fios voláteis e fugidios de luz” a nos desafiar.

(...) escrito pelo poeta José de Castro